Assim é o quarto: o ninho dentro do ninho, um mundo todinho seu. Por isso, ele deve ser mais saudável, relaxante, renovador de energias do que qualquer outro ambiente da casa. Mas, na maioria das vezes, não é. No Brasil, quase metade da população tem problemas para dormir ou chegar às oito horas de sono recomendadas por dia, segundo o Instituto do Sono. Pior ainda: a maioria das pessoas não investiga por que dorme tão mal.
O quarto pode ser uma das origens do problema, principalmente nessa época em que o smartphone e a TV ficam ligados antes que fechemos os olhos. “Alguns estudos já concluíram, por exemplo, que a proximidade das ondas eletromagnéticas do celular podem interferir no aprofundamento do sono. Quanto mais perto, pior”, informa a médica do sono e neurologista Anna Karla Smith, do Instituto do Sono.
Ao decorar esse espaço, cometemos mais pecados. “O quarto ideal é despojado e cumpre objetivamente seu papel, tendo apenas móveis para dormir. O problema é que as pessoas o transformam em uma odisseia decorativa”, diz José Carlos Perini, presidente da Associação Brasileira de Alergologia e Imunologia (Asbai). Para ele, quanto mais simples for o ambiente, melhor. Mas calma: não será preciso aposentar as almofadinhas ainda. Tudo pode se resolver com as dicas seguintes.
1. Travesseiro e colchão: limpeza, manutenção e prazo de validade
Pelo menos um terço do seu dia é passado na cama, como filosofam as propagandas. Então, cuide bem do colchão e do travesseiro. A cama de quatro pés é a mais recomendada pela fácil manutenção, diz o alergologista José Carlos Perini. “Cama box, sem problemas, desde que se aspire pelo menos uma vez por semana a parte inferior dela”, aponta. Para o colchão, a recomendação é revestir seu modelo com protetor, que deve ser lavado quinzenalmente. Travesseiros de viscoelástico, que se encaixam bem entre pescoço e coluna, são satisfatórios, segundo a médica do sono Anna Karla Smith. Com a capa protetora, você faz a manutenção correta. Evite modelos de penas, que podem se decompor. “Lembre-se de que todos esses itens têm prazo de validade e siga a indicação do fabricante. Com manutenção correta, a vida útil se prolonga um pouco mais”, diz Carlos.
2. Cabeceiras de tecido: evite
Evite as de tecidos não laváveis. Mesmo as que podem ser lavadas a seco absorvem agentes alérgenos. “Cabeceiras de tecido são uma heresia”, decreta José Carlos Perini, da Asbai, que indica substituí-las pelas de materiais resinados, ou mesmo pelas de madeira ou de ferro. “Mas tenha sempre cuidado com o que você leva para casa. Se for madeira de demolição, pragas difíceis de controlar, ou outros insetos, podem estar escondidos.”
3. Desligue os eletrônicos
Invista nesse novo ritual: nada de celular no criado mudo. Chega de bagunça, livros ou agenda também. O ideal é eliminar os eletrônicos e tudo o que for estimulante. Apenas um livro, um chá. “Pode até fazer alongamento”, sugere a médica Anna Karla Smith. Apague a luz, pense em coisas boas, tire esse momento para você.
4. Lençóis, roupa de cama, boutie e almofadinhas: ter ou não ter?
Sim, eles precisam ser trocados uma vez por semana. O ritual você sabe: lavar, de preferência sem muito amaciante, para não irritar a pele. Sobre aquele monte de coisas que colocamos em cima da cama, a personal organizer Lucy Mizael pergunta: “Você tem tempo para organizar tudo isso de manhã?”. Se a resposta for “não”, aposte apenas na colcha ou no cobre-leito e deixe os outros itens do kit para os fins de semana, assim simplifica a rotina. Providencie também um lugar para guardá-los, como um baú. O tempo de lavagem do kit, ou do cobre-leito, varia de acordo com o uso da cama: se é usado apenas para dormir, lave no fim do mês, senão, quinzenalmente. De vez em quando, deixe a cama sem arrumar: os ácaros adoram umidade. Quanto mais os lençóis debaixo respiram, menos eles se multiplicam.
5. Cortina aberta para entrar luz natural
Na hora de dormir, deixe uma fresta da cortina aberta para acordar com luminosidade natural, como orienta a psicóloga Angelita Scardua, integrante do projeto Héstia, que estuda o bem-estar em casa e o morar brasileiro. “Temos hormônios que são ativados com a luz do Sol, por isso acordar com a claridade é importante para se sentir bem. Dormir no escuro também é essencial na produção de melatonina, que propicia o sono. Até mesmo as luzes de stand-by dos aparelhos ou o piscar de um celular atrapalham o relaxamento”, aponta.
6. Tapetes podem atrapalhar o sono
Aí está um item que deve ter manutenção bem fácil. Os muito felpudos são uma delícia, mas requerem lavagem especial, o que nem sempre acontece. Já os de pelo curto devem ser aspirados uma vez por semana ou mais, no caso de quem tem animal de estimação. Para eliminar pelos e odores, a consultora doméstica Lucy Mizael conta um segredinho para prolongar a lavagem: “Borrife sal ou bicarbonato de sódio por 30 minutos e aspire”.
7. Armário ou closet: perigo de mofo!
A parte interna dos armários pode ter sinais de mofo. Nesse caso, esqueça a ideia de colocar giz ou sabonete. A personal organizer Lucy Mizael diz que não funciona. “Os melhores são os antimofos elétricos”, recomenda. A dica é endossada pelo alergologista José Carlos Perini. “Eles mantêm a umidade em torno de 40%, o que, para um closet, é muito bom. Mas outro alerta é essencial: a cavidade que o armário ou o closet ocupa na parede (na construção) deve ser impermeabilizada antes da instalação do móvel. Assim, evita-se a contaminação de fungos, que têm o poder de tomar um ambiente aos poucos”, define. Para os armários, a parte interna deve ser branca, de alto brilho, com pintura clara. “Essa superfície evita a proliferação de fungos”, completa Perini. Mantenha fora dele um cabide, para deixar as roupas usadas no dia. Ali elas devem respirar um pouco.
8. Cores adequadas para o quarto
Talvez você tenha se apaixonado pelo quarto da protagonista de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, mas o vermelho em questão não é indicado, na visão de José Carlos Perini, presidente da Asbai. “As paredes devem ser claras. Tons suaves podem indicar onde há mofo, e mais: por difundirem claridade, evitam a proliferação de fungos”,explica. Escolha uma tonalidade que tenha a ver com você e que lembre coisas boas, orienta a psicóloga Angelita Scardua: “O azul do céu ou o amarelo do Sol clareando o dia remetem a mensagens positivas. É preciso pensar nessas variações antes de optar pela cor da moda”.
9. Lavanda para acalmar e silêncio absoluto
Estudiosa do assunto, a aromatóloga Samia Maluf indica aromas frescos e leves, como os de lavanda, de bergamota e de cedro para um quarto relaxante. São indutores do sono e podem ser usados separados ou em conjunto, sempre em dosagens baixas. O ideal seria usá-los in natura. “A lavanda natural trata a insônia, por exemplo, e não causa alergia”, diz Samia. Mas, se não for possível, o uso de água de passar nas roupas de cama é a dica aprovada pelo alergologista e também pela aromatóloga. Evite aromas de baunilha, flores ou os muito doces. Quanto aos sons, a dica é silêncio total. “Ruídos interferem no relaxamento profundo”, aponta a psicóloga Angelita Scardua.
10. Iluminação: invista no dimmer
Uma luz ajustável é o ideal. Itens de iluminação que possam ser ajustados ao longo do dia são investimentos que fazem a diferença. “A iluminação precisa indicar tranquilidade e desaceleração, com plafons de luz indireta, abajures, arandelas ou pontos de luz na marcenaria”, sugere a designer de interiores Natália Meyer, do Meyer Cortez Arquitetura & Design. “Mais suave para a noite e mais intensa para o dia”, completa Angelita Scardua.
11. Conforto térmico
Tudo o que pode criar aconchego no quarto é bem-vindo. No frio, mantas precisam estar à mão, e o ambiente deve estar bem vestido. O piso de material isotérmico dá conta de “esquentar” o local com mais eficiência do que tapetes grossos.“A madeira carvalho, no assoalho, traz sensação de calor e aconchego, graças à textura agradável”, diz a arquiteta Patricia Martinez. Aliás, o quarto ideal se adequa ao clima de onde está: no Nordeste, melhor adotar materiais frescos e janelas amplas; na região Sul do país, não é necessário tudo isso. Para refrescar, o ar-condicionado é melhor que climatizador ou ventilador de teto, segundo explica José Carlos. O importante é ficar atento ao posicionamento do aparelho – o vento deve ser na direção da cabeça aos pés. “A temperatura precisa ficar entre 22 e 24 graus, se possível com umidificador no quarto, para não ressecar as vias respiratórias”, diz ele. Se você tem ventilador de teto, use-o no modo exaustor para dormir bem.
12. Organização: quanto menos coisas, melhor
Bagunça de fios, aparelhos demais no rack… não e não. O minimalismo, aqui, é essencial. Com objetos bem escolhidos – poucos e bons –, você ganha pontos extras em bem-estar. Esconda os fios com fita em espiral e aspire o nicho semanalmente. “Ao entrarmos em um lugar, nosso cérebro busca, inconscientemente, mapear objetos e toda a cena. Se houver desorganização e esse mapeamento for difícil, ele se estressa. Conclusão: a pessoa passa a evitar o lugar, não se sente bem nele”, diz Angelita Scardua. Um recente estudo realizado pela Universidade de St. Lawrence, em Nova York, Estados Unidos, sugere que dormir em um quarto desarrumado pode levar as pessoas a se sentirem mais cansadas no dia seguinte e causar um ciclo vicioso de estresse.
Fonte: Casa e Jardim